A estação mais clássica, mais românica e mais triunfante chega.
PARTE I
Os poemas nascem, os textos ganham vida, as melodias melancólicas teimam em deixar arvores despidas, ao som de um qualquer vento que se rasga em ruas nuas.
Nas calçadas sujas da tal capital, existem manchas que o ano foi deixando. O sangue da luta de dois bêbados que mesmo bêbados conseguem derramar a glória do principio pouco ortodoxo de uma bebedeira porca, derramando a raiva de cães surdos por razões pouco aparentes, embora existentes, mas nunca visíveis aos meus olhos, que nem o Outono de 1931 tive nem estive perto...
As manchas oleosas que vão pingando dos cavalos que recolhem os nossos sacos carregados de merda, que gentilmente chamamos de “lixo”. Esses mesmos cavalos com atrelados verdes madeira que recolhem mais uma vez a nossa “merda” e de seguida cagam as ruas com as suas rodas gastas e sujas carregadas de pingos de urina dos lusitanos cavalos que vão queimando a calçada a cada galope clássico. A cada gota que cai, a cada padrão queimado que foi ontem desenhado no chão, calhau por calhau, por homens presos, que faziam da sua arte o chão que hoje piso. Popularmente chamamos de “calçada portuguesa”, originalmente de Portugal portanto, originalmente bonitas, actualmente sujas.
O romantismo é mesmo isso, é precisamente aí que quero entrar.
O sujo, os defeitos, as anomalias ou imperfeições começam por ser cobertas pelo Outono. As folhas que antes estavam lá em cima nas árvores vestidas de verde, hoje estão no chão e elas nuas vão ficando, as folhas castanhas que caiem levemente por entre ventos e brisas ricas de sabor naturalmente rico de comédia e melancolia, ao baterem no chão calçado por pedras calçadas entre elas, fazem chorar de lágrimas as folhas soltas que cobrem as calçadas como se um lençol de seda fossem. Transformando o teu e o meu, o nosso chão velho e sujo, em tapetes de romantismo clássico desenhados por um estilista bárbaro e simpático, de seu nome Outono de 1931.
PARTE II
Repentinamente a chuva começa a cair, as folhas começam a entupir as sarjetas e o Outono de 1931 inicia a sua poderosa anarquia.
Os cavalos começam a ficar assustados, os porcos fazem aquele barulho que vocês sabem. Junto ao mar, as gaivotas voam felizes, e o deus dos mares acorda e lembra que está por perto. As rochas envolvem-se com as ondas em abraços constantes de dois amantes que se desejavam mas se evitavam. As danças que parecem rituais característicos de um baile afrodisíaco, onde as mascaras marcam presença e ninguém sonha com quem está na cama a seu lado, ou por baixo...
O sexo torna-se mais quente de forma a “cobrir” o frio que se sente na pele, as velas teimam em apagar a cada segundo da nossa respiração mais intensa, a cada segundo se ouve um gemido. É o Outono de 1931.
O sabor deste Outono é diferente. É pesado. É pastel. É sol apagado. E textura do romântico gótico sincero!? Mas o gótico é sincero? Nem pouco mais ao menos É apenas gótico.
Voei então com a força do vento, abraçado por ventos e brisas viajei com as folhas numa dança envolvida pelo som claro dos mares infernais.
Sonhei que estava a sonhar e não pedi para acordar, pedi um Outono diferente, mas o Outono de 1931 teimou em ficar comigo.
Os parabéns foram cantados pela chegada do 1931 e o adeus foi cantado em forma de hino lírico de um qualquer fado estranhamente e bizarro, pois o fado lírico é algo que não conhecia, foi-me apresentado neste sonho por um homem de cartola, o Moizés, amigo Moizés, esta personagem que desconheço e me conhece dos meus textos...
Na rua pedi o limpo, agarrei na vassoura e sujei o sujo em prol do limpo, fiz o pior e o Outono de 1931 voltou a limar a imperfeição que eu deixei a cada canto desafinado que eu oferecia e me dava.
Deixei a rua e fechei-me com a flecha num alvo sem setas, numa porta sem chave, onde o grito de glória chorou por uma noite que se transformara em dia claro de tons pastel e cinza. A magenta alimenta o meu céu, a púrpura torna a dúvida pouco pura, a incerteza leva-nos à doce loucura dos loucos que não sabemos se o são, limitamo-nos a dizer que sim!
Sentimos que vamos de viagem, pedimos uma dose de loucura, mas loucos não somos, são os outros. Somos então o quê? Que fazemos agora? Loucuras? Dizem os espertos que não são os loucos, loucos! São apenas loucos por rótulo de loucura.
O Rebelde é a palavra criada para um VIP louco neste Outono de 1931, é o sentimento de inicio da anarquia, da sociedade dos não aceites, não integrados, não limpos, sempre sujos, embora a minha loucura seja apenas peculiar e de momentos, não deixo de o ser, nem rebelde, nem muito menos louco. O cabelo dá-me uma certa tendência psíquica de atrofiado do momento, uma espécie de imagem pouco real que com o sabor do Outono de 1931 fica sempre pior. É dos ventos…
PARTE VIII
Agora que penso estar a chegar ao fim a pergunta mantém-se desde o inicio: Porquê “Outono de 1931?” – Pois, não sei, foi mero instinto, uma imaginação pouco real de uma época que não vivi, em que no texto quis divagar devagar para não cair e não bater de frente contra uma qualquer gente diferente mas tão igual a mim.
Somos apelidados de estranhos. Somos de facto seres estranhos visto aos olhos de alguns, mas não deixo de navegar nos meus sonhos onde o sentido é pouco claro e onde as virtudes fogem devagar para não divagar. Onde eu amo trocar o preto pelo branco e o azul poderia ser a cor dos meus pensamentos, e o sangue neste caso ficaria amarelo queimado, quase castanho, mas não castanho.
Tudo parece louco, tudo é estranho, este Outono de 1931 deu-me um imenso prazer de escrever, talvez a falta de sentido tenha sido o maior dos sonhos, ou pouco pesadelo de tudo o que ia escrevendo em palavras de fabulosas da língua comprida e não menos comprimida de Camões. Com tal podridão apenas peço que tenham paciência com a vossa loucura e sejam mais loucos com vocês. No dia em que o Outono de 1931 deixar de libertar as folhas de cor pastel, então o 1931 morre e nasce um verão de 1930. O tempo avança nos nossos relógios, as nossas rugas aparecem e nós ficamos velhos, eis que a regra é simples, recuar para que no presente o futuro chegar antes de acontecer um passado pouco existente nas nossas mentes, as rugas devem ficar finas e com historias não passadas mas sonhadas.
No Outono de 1931 os sonhos são o que são, valem apenas o que queremos imaginar. Libertar a imaginação em viagens sem sabor é de magia pouco clara, mas o que é o sabor? O sabor é a textura do que pensas sonhas ou comes, tu defines o sabor, eu não defino, sou demasiado formatado para aceitar algo que é demasiado amargo ou doce, as doses devem ser peculiares e a pimenta bem controlada é doce. É tudo uma questão de atitude do Outono de 1931.
Mas o que é o Outono de 1931? Ora bem, é algo vazio! Faço o exercício. O que aconteceu em 1931? Algo de histórico? E no Outono? Não tenho paciência para pesquisas, aconteceu apenas o que tinha de acontecer e o que eu escrevi foi apenas um romantismo analfabeto entre histórias de putas que não aparecem retratadas mas que existem.
Adeus e até ao próximo 1931 ou Outono de 1931.
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