Elementar meu caro, diz ele.
Segue sem perceber a observação que ele próprio fez. O sinal estava vermelho e o carro aguardava o verde, por ele já estava lá. Mas será “lá”, onde? Onde Deus o quiser, onde ele se quiser. A real dureza das palavras saiam-lhe nos pensamentos que deambulavam entre os poemas e o que lia no jornal desportivo. Já na estrada ficou a aguardar que o rádio lhe desse um pouco mais do que aquilo que ele já tinha.
Nas entranhas perguntava-se se teria ele algo mais do que já desejara? Ficou a pergunta e atchim (espirrou)... o pensamento que daria consequência a uma brutal resposta sem ficção, foi-se… fodido, ainda andou entre ruas e avenidas em busca do pensamento perdido, sonho ou metáfora que lhe fodeu a alma sem perceber tal lógica. Procurou nos cantos mais escondidos do cérebro uma sublime resposta e apenas se recordava de baralhos de cartas que nada lhe traziam de novo. Tinha sido campeão de póquer no bairro onde morava em miúdo.
Hoje era um taxista que odiava transportar homens e as mulheres eram escolhidas a dedo. Servia-lhes um vinho no Porto e cobrava apenas meio trajecto, falava-lhes pouco, mas quando o inverso acontecia era trágico. Chegou a ter uma cliente no carro quatro horas a falar. Era ela uma mulher poderosa, com dinheiro e com tudo o que queria, tinha um Ferrari na garagem, mas a baixa de Lisboa é má para estacionar e o parque possivelmente estaria cheio. Tinha ela bilhetes para ver uma peça no teatro nacional, uma daquelas para intelectuais de esquerda. Tinha ele a sabedoria e, ali ficaram à porta do teatro nacional a falar de uma qualquer peça que antes tinha ela ido, e ele lido numa noite em Paris.
Hoje era um taxista que odiava transportar homens e as mulheres eram escolhidas a dedo. Servia-lhes um vinho no Porto e cobrava apenas meio trajecto, falava-lhes pouco, mas quando o inverso acontecia era trágico. Chegou a ter uma cliente no carro quatro horas a falar. Era ela uma mulher poderosa, com dinheiro e com tudo o que queria, tinha um Ferrari na garagem, mas a baixa de Lisboa é má para estacionar e o parque possivelmente estaria cheio. Tinha ela bilhetes para ver uma peça no teatro nacional, uma daquelas para intelectuais de esquerda. Tinha ele a sabedoria e, ali ficaram à porta do teatro nacional a falar de uma qualquer peça que antes tinha ela ido, e ele lido numa noite em Paris.
O carro preto e verde circulava com calma e paz ao som de Vivaldi, pois farto de uma rádio onde a música lhe dava sono, parou junto a Belém, ali ficou a ver o rio. Saiu do carro e acendeu um cigarro. Aproximou-se dele a mulher da longa viagem, a tal que viu a peça e ele leu em Paris. Espantou-lhe a alma, pouco sorrio e ela pouco lhe disse além do “dás-me lume?” – Deu-lhe uma caixa de fósforos para a mão e calado ali ficou. Ela fumava e respirava fundo. Perguntou-lhe ele o que se passava. Ela a vistosa, rica e poderosa, lá lhe disse que o tinha seguido no seu Jaguar verde. O Ferrari estava na garagem. Ficou furioso com o facto da poderosa o ter seguido. Explicou-lhe ela, que sabia porque zonas ele circulava com o carro, e precisou de lhe falar. Apercebeu-se ele, que ela se teria apercebido que o que a poderosa precisava era de falar, coisa que o taxista da noite nem sempre estava disponível e com pachorra para tal.
Ela pediu-lhe então um copo de vinho Porto, ele pela primeira vez sorriu e no carro se sentaram. A conversa durou horas. O sol nasceu e ela chorou. O tom alaranjado nunca lhe tinha ferido os olhos, era totalmente desconhecido. Por outro lado, mesmo junto a ela, estava ele que nunca tinha dado importância a tal fantástico “fenómeno que é o nascer do sol”. Na hora de se ir embora, ela pediu-lhe boleia e o Jaguar ali ficou, na esperança que na próxima noite ele aparecesse junto ao carro para ali ficar com ela. Ele não apareceu!
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