terça-feira, abril 30, 2013

A loucura e a vida numa história cheia de finos balões


A vida é um acto de loucura. Viver já por si é uma arte. Viver é contar histórias, fazer, criar, evoluir o que de nós temos melhor. Tenho sido hábil em seguir a minha rota. Devaneios, panóplias e a tal dose de loucura assumida. Aquela mesma dose devidamente doseada com sabor amargo e doce, o tal que evoluiu e hoje é definido por agridoce… fuck…
Paro para pensar e faço um balanço.
O ano de 2011 foi duro, implacável. Aprendi a viver. A optar. A criar prioridades. Tudo aconteceu de forma pouco clara. Explicar por aqui, seria um acto de pouca lucidez. Explicar seria um acto falhado, mas por ter trazido resultados tão belos, vale a pena esta minha tentativa.
Estava tranquilo. Uma chamada telefónica sem grande relevo. Dizia-me ele que estava com dores de estômago e ia para o hospital. Lá foi ele!
Exames e mais exames. Hospitais e mais hospitais. Internado. Exames dos pés à cabeça! Chegou o resultado. Cancro no pâncreas. O mundo acabava naquele momento de me esmagar. Acho que me senti uma formiga. Tenho a certeza que sim. As formigas são fortes. Uma operação de alto risco e ponderada. Oito horas numa sala de espera. Eu a minha cunhada e o meu melhor amigo, numa sala fria. Ele, o meu melhor amigo, que faço questão de o identificar: Marco, nome de guerra Gamb. Sempre ali! Ele que não faz outra coisa devido à sua profissão, senão estar em hospitais e abrir pessoas e coisas do género. Tentou como sempre, criar naquele momento gelado um ambiente descontraído e… conseguiu. Se disser que acabámos por nos rir em determinados momentos, vão achar que nós os três somos loucos. Na verdade sabíamos que o herói que estava no bloco queria isso mesmo, que estivéssemos calmos e assim foi.
Quando saiu e o fui ver deu-me um fraco murro na barriga, dizendo-me que ainda era capaz de o fazer. Fiz uma força do tamanho do mundo para não verter uma única lágrima naquele momento. Assim foi e consegui.
Veio a alta e iniciou uma guerra serrada de tratamentos. Viajou SOZINHO para a Alemanha para se submeter a um tratamento que se dizia inovador, enquanto isso, entre as viagens à Alemanha ia cumprindo com o protocolo de quimioterapia a que estava sujeito. Fez tudo sem falhar. Momento de receber exames. Balde de água fria. Os pulmões tinham pregado uma rasteira. Uma merda do caralho. Chamei mil nomes olhando para os céus, ofendi o meu melhor amigo ao telefone, dei um murro numa parede e… parei para reflectir. O herói abanou mas não caiu e disse “Bora lá pá!” – ele que deveria ter o nosso apoio, estava a dar-nos apoio. Ridículo. Este meu herói é de uma dimensão humana inexplicável! Este novo protocolo era mais invasivo, mais duro. Era veneno puro e ele que nunca se queixava, estava com queixas… assustei-me. De quinze em quinze dias saia de casa pelas 06:30am para o ir buscar a casa e o levar aos tratamentos. Por mais cansado que eu estivesse, nunca senti o cansaço.
Este tratamento devastou. Mas pelo meio, foi actor de um filme que espero que passe em grelha brevemente, fazia de bombeiro, ironias… entretanto realizou uma curta mesmo quando fazia os tratamentos. Nunca deixou de trabalhar, nunca baixou os braços. Os tratamentos final estão concluídos. Aguardámos pelos resultados que estavam lixados de chegar. E as noticias são as melhores, o meu irmão, o tal herói que aqui escrevo, ganhou esta dupla batalha. Obviamente que vai seguir os exames com a periocidade normal de um doente oncológico.
Hoje estou mais calmo, com uma vontade de viver que não se explica. Estou numa fase muito tranquila, os problemas são o que são, dou a importância que acho que lhes devo dar.
Ontem falei com o meu amigo Marco, quando lhe dei a notícia ele com aquele jeito dele disse-me: “foda-se, caralho, filho da mãe é mesmo bom. Granda cena!” – isto dito por alguém que trabalha com doentes com o problema que o meu irmão tem… é de uma outra dimensão.
Gosto de ouvir música, cantar para mim, voar nos meus sonhos, comer, beber e fazer as minhas doideiras. Sou hoje uma pessoa melhor, mais aberta, mais fixe! Cresci em dois anos… acho que fui além do que era possível. A lição que o meu irmão me deu (mais uma), é a minha lição de vida – aproveitem a vida. Sim, porque um gajo que é duplo, que anda em chamas, salta de pontes, cai de escadas, vira carros e nada lhe acontece… seria ironia filha da mãe.
Aproveitem o sabor da vida, há quem não tenha esta pauta que nós que não olhamos para ela temos!
Desculpe o meu mau português, mas escrevi em cru, como sou na verdade. Louco, alucinado, navegador e pensador de coisas anormais!

A felicidade é um artigo incompleto, cabe a nós completar! A nós, não aos outros!

P.S.: Obrigado a todos pelos mais belos e sempre presentes mimos! Muitos deles em silencio, sem nunca tocarem no assunto, mas eu sei que estavam ali!

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