O sol parece quase apagado quando uma tempestade que se aproxima. Os pássaros fogem como quem foge de um fantasma. A chuva começa a cair. Homens gritam o nome dos deuses que parecem estar adormecidos. As nuvens caiem sobre os montes e vales. As cidades ficam alagadas. O desespero toma conta do homem. Casas voam como se de papel fossem. Os carros são esmagados contra o chão. Por fim cai um raio.
Acordam dias depois.
O cenário é assustador. Melancólico. Negro. A nossa visão vê o que nunca quis ver. A devastação.
O silêncio é terrivelmente bizarro. Deixa de o ser! Um homem. Um forte. Um de mãos enormes. Um que parece um gigante. Um que chora. Um desesperado. Um que entoa gritos de pânico. Olha para o céu limpo. Começa um enorme questionário para o seu deus… as respostas são brancas. A única resposta que vê são o viajar das nuvens de cor cinzenta de tom escuro perto do negro. Não negro. Quase negro!
As estradas passaram a desertos infinitos, as árvores estão nuas e o frio cria-lhes feridas profundas. Sangue vermelho com tons de encarnado morto escorrem perante as rachas, parecem lágrimas que imploram por clemência. Clemência do quê? O mundo como ele é, como o homem o tornou. O limite a que chegou… o medo chegou, a duvida do fim passou a certeza.
Jeremias é um pequeno fantasma que cai na cidade, olha para a devastação e pensa – “que mundo cru”. Pega numa pistola e tenta um suicídio… um acto vazio para um fantasma…
Leitura:
Mundo cru. Forramos este mundo numa espécie de papel de embrulho de veludo. Tonalidades quentes e crias que criam formas e texturas suaves e agressivas. Campos de seda que cobrem feridas que vamos deixando a cada passo que damos… rios que escondem o sangue e a magoa de todos os dias… até os mortos são escondidos… mundo cru de crueldade…
Sem comentários:
Enviar um comentário